segunda-feira, 13 de abril de 2009

Em Novembro...

De uma amiga.... "NOVEMBRO! Uma estrada estreita no meio de nenhures, ou algures no centro do país. Passo, sentada no ''lugar do morto'' tranquila olhando a berma e vejo um ser, um pobre diabo, magro, escanzelado tresandando a fome,a sede e a maus tratos. Porque não suporto maus cheiros convenci o condutor a parar para que eu pudesse cumprir o meu dever de cidadã e tirar da rua o ''lixo'' dos outros. É mais ou menos como quando passamos num jardim e apanhamos um papel de gelado para colocar no papelão.Bem, de facto seduzi o cão com uma lata de comida à qual, desconfiado, com muito medo, lentamente se aproximou pois o seu instinto de sobrevivência não o permitiu resistir. Mal estacionados, em cima do passeio, também não pude permitir que comesse, agarrei-o e fechei-o na parte de trás da carrinha, convencida que lhe daria uma ultima refeiçao e lhe pouparia toda a dor, sofrimento e seria capaz de ter para com ele a misericórdia de lhe pagar uma injecção de eutasil.Morte por morte pelo menos esta seria rápida, pouparia a sede, a fome, a dor na perna coxa...No lugar dele quem me dera que tivessem a mesma misericórdia por mim....Mas assim não aconteceu. Cheguei tarde, acomodei-o numa antiga quinta onde foi bem recebido pelas duas residentes. Queria aconchega-lo, fazer-lhe festas, dar-lhe a comida perto da boca mas ele fugia. Espreitava, mas fugia...coitado! Não queria de forma alguma proximidade.Perante este facto achei que o meu acto de misericórdia seria dar-lhe o que nunca teve, afecto.Segundo a veterinaria estava de boa saúde, a pata coxa não lhe causava dores pois o osso estava solidificado, não tinha um olho e depois? Vou cometer a loucura de acolher um podengo português de porte médio, com dois anos, coxo e sem um olho.Contudo, o tempo foi passando, o nosso Camoes encontrou uma Familia temporária que lhe deu tanto carinho e afecto que hoje ele é um animal terno , dócil, brincalhão mas também confiante... e olhem que é um Camões com nível, olhem-me só a pose!!! Quem diria pequenito? És como a gata borralheira..Mas o Teco ( Camões) tem um chip, e tem um dono com o qual falei e foi muito educado. É caçador, perdeu o cão e nunca mais soube dele e estava pronto a recebê-lo até ao momento em que lhe referi as deficiências que o cão apresenta agora, a pata e o olho tornaram o animal inútil para a caça por isso, deste dono, só pode esperar uma casota e uma corrente porque serve para a guarda.Ora, o amor acontece simplesmente e apaixonei-me por ele. Especialmente quando descobri que ele ainda por cima é surdo. Por isso, correntes, estão fora de questão porque o amor só é amor quando é livre!Pois, poderia ficar com ele se as possibilidades económicas me permitissem outras condições de vida que não tenho. Entao terei de abdicar da sua companhia mas não desistirei até encontrar alguém com pose, com este nível, para poder estar ao lado de um cão com muita pinta!Um brincalhão, um doce, uma ternura e cujas deficiências nao o impedem de fazer uma vida igual à dos outros cães. Mas não nos podemos esquecer que é surdo que nem uma porta e por isso só pode passear à trela ou então tem de ter um quintal bem vedado se o quiser adoptar.Se tem preconceitos quanto às suas deficiências visite-o e comprove a originalidade deste ser que de pele e osso, de pobre diabo amedrontado passou a um Senhor, de qualidades, simplesmente, indescritíveis.Peço desculpa pela extensão do texto, mas este cão tem sido discriminado pelas suas diferenças, assim, marca-se tambem a diferença no gesto, nesta atitude de não desistir de lhe procurar uma familia com sensibilidade suficiente para lhe dar uma oportunidade e se quiserem, marca-se diferença com este acto de loucura de tentar salvar um deficiente no meio de tantos cães mais bonitos, mais na moda, e perfeitos. Mas loucura cada um tem a sua dose e esta, há 6 meses, que é a minha. Claudia Sequeira – 964403740"

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